Cartografia no universo imaginado, 2019

Ursula Tautz

texto Gisele Bento Fernandes

28.09 - 09.11.2019 Belo Horizonte

O universo, antes de ser explicado pela ciência, foi imaginado, sondado e explicado pelas palavras, pelos mitos, pela busca de algo que sempre moveu o ser humano: conhecer. Conhecer  a terra, o espaço, a história.

O universo inicialmente imaginado, foi investigado até desvendar-se diante daqueles que se entregaram no processo de conhecê-lo. 

E não é porque a ciência o desvendou que o imaginado perde sua força...

O trabalho da artista Ursula Tautz apresenta questões relacionadas à memória e pertencimento vinculados ao tempo, história e lugar. Existe em sua pesquisa uma busca por referências de pertencimento e pela memória afetiva, considerada um lugar congelado no tempo. O mundo é visto por ela a partir da reflexão sobre as relações humanas contextualizadas numa espacialidade que vai além da dimensão física e abrange também as dimensões históricas e afetivas. 

Nessa exposição individual, a artista apresenta sua mais recente pesquisa e propõe a reflexão sobre um universo imaginado, onde elementos que nos remetem à ciência se misturam à uma cartografia poética. 

Entre prumos e rádicas, objetos e desenhos,  somos convidados a entrar em contato com esses elementos poéticos de mapeamento do espaço, que não é simplesmente físico, parte do universo conhecido, mas principalmente, imaginado, pertencente a um universo intangível.

Universo esse, que sob o olhar da artista é alcançado pelo fruir, com tantas reflexões e relações quanto o ser humano é capaz de fazer.  

Um espaço imaginado que se basta.

Uma incompreensão aceita, um mistério que persiste em sua existência como tal nessa tentativa de mapeamento, seja através dos universos-ilha ou nas cartografias de rádica.

Onde as redomas simbolizam um lugar protegido, alcançado apenas pela visão através da transparência.

Onde os prumos refletem a necessidade de tentar entender a terra no universo de maneira racional promovendo um contraste com a cartografia imaginada que as rádicas nos proporcianam. 

Onde a rádica é essência, pois, além de ser um elemento imbuído de camadas de tempo, traz em si a identidade de ser origem, de simbolizar pertencimento ao mesmo tempo em que visualmente nos remete à imagem de um mapa, de geologia... algo que tem a força de ser raiz e ter gravado em si a mutabilidade ao longo de sua existência.

Objetos e cartografias que nos remetem ao lugar do cientista, aquele que olha com curiosidade, que busca respostas, que busca relações entre o que já sabe e o que ainda não desvendou... o olhar que prescruta o mundo à sua volta, que sonda o universo conhecido e o imaginado. 

Levando a crer que é só por esse balanceamento de razão e imaginação é que se estabelece a reflexão sobre o espaço, o tempo e a memória,  que contextualizados com as relações humanas, são capazes de gerar a sensação de pertencimento. 

Gisele Bento Fernandes

Universo-ilha particular 1, 2019

Rádicas, redoma, prumo e arame dourado, pigmento dourado 33 x 14 cm

Universo-ilha particular 2, 2019

Rádicas, lente, redoma, funil, vergalhão de cobre,pigmento dourado
48cm x Ø 14 cm

Universo-ilha 3, 2019

Rádica, redomas, móvel em madeira, vidro e funil 25 x 25cm (h=115cm)

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